23.10.06

pra flor sonolenta

A apresentação de final de ano, pra qual nos preparamos por tanto tempo, havia finalmente acontecido. Interminável, como sempre ocorre quando todas as alunas de todas as classes da academia de balé têm que dançar uma, quem sabe duas vezes. Não me lembro do meu papel. Certamente, fui um coelhinho, ratinho, qualquer coisa assim. Irrelevante, como tudo mais naquela noite. As alunas brigaram por seus papéis, ensaiaram horas a fio com professoras tiranas, mas no dia seguinte só o que importava era a dança das flores. Pequenas bailarinas deitavam-se dentro de enormes flores de papel colorido, levantavam-se, davam um ou dois passinhos pra deleite dos pais orgulhosos e voltavam pra flor enquanto as mais velhas dançavam. Pois uma das florzinhas dormiu, não resistiu até o fim da dança. A coreografia acabou, as alunas se retiraram e a florzinha teve que ser resgatada pela desconsolada professora. Só se falava nisso. O lindo cenário foi esquecido, a música, o figurino, o desempenho exemplar das alunas, nada tinha importância. Só o que contava era a flor. Imagino como deve ter sido difícil pra ela enfrentar as aulas seguintes, recheadas de gozações. Imagino que deve ter odiado o papel, os ensaios, o dia em que entrou na academia e mesmo o dia em que nasceu. Sinto um pouco de pena da flor sonolenta por isso. O que mais sinto, no entanto, ainda hoje, é inveja. Eu teria dado tudo pra ser uma daquelas flores e dormir em pleno palco.

13 comentários:

Anônimo disse...

Já rebolei como coelhinho.

Anônimo disse...

Nossa, que lindo!

R... disse...

a insonia tah braba, hein..

Anônimo disse...

Queridinha minha, vc é bárbara! Vc faz minha vida ser mais alegre. Não sei dizer que texto é melhor, todos são geniais.Aguardo os próximos.

Anônimo disse...

Ô, meu Deus, esqueci de assinar... Só podia ser eu mesma, tia Claudia, não?

Mariana disse...

Claro, então não conheço seu estilo?
bjs

Anônimo disse...

Adorei!
Bjs, Anonymous

Ci� disse...

Final sensacional!!! hahaha.

Anônimo disse...

É muito lindo. E meigo. E bom demais de ler.

Anônimo disse...

Um saco esse negócio de anônimo, né? A gente não fica sabendo quem escreveu. Eu me identifico logo - Lelê - até porque já fui flor. Foi daí que vc tirou este "conto"? Não me lembro de ter dormido, mas a meia calça e o colant verde são inesquecíveis - além das pétalas de margarida que Lolô preparou. Um horror!

Mariana disse...

Também acho um saco. Apareçam, anônimos!
Vc não foi flor, florzinha, vc é.
Infelizmente, não cheguei a te ver de margarida. Tem foto?
bjs

Anônimo disse...

não me lembro desta croniqueta. se voltou a publicar,é que tem algo no ar alem dos aviões.Eu descubro.Oque será????????

Mariana disse...

Checa a data, anonimo!