12.1.08

e viva a incompetência do bandido brasileiro

Não vou celebrar a competência da polícia brasileira. Desculpem, mas tenho minhas dúvidas. Tudo bem que a polícia fez a parte dela e trouxe de volta os quadros levados do Masp, mas, se não fosse a incompetência do bandido brasileiro, não sei, não. A incompetência do bandido brasileiro me mata de vergonha. Onde é que já se viu, quando todo mundo achava que os quadros já estavam longe há muito tempo, eles aparecerem escondidos num subúrbio ali do lado? Haja incompetência! Mas, tendo servido pra recuperar os agora mais importantes quadros do acervo nacional, um viva pra incompetência do bandido brasileiro! O bandido brasileiro pediu um milhão pra roubar os quadros. Obviamente, não sabia o que estava roubando ou teria pedido pelo menos cinco. Pra tudo tem remédio, pensou o bandido brasileiro, que lê jornal - mais um viva pra ele! - e, quando descobriu que os quadros valiam cem milhões, resolveu que por um não entregava, não, queria os tais cinco. Pra quê cinco, bandido brasileiro? Unzinho já garantia a aposentadoria... Mas tudo teria dado certo se o destino não tivesse colocado no caminho do bandido brasileiro outro incompetente: o mandante. O mandante também me mata de vergonha, mas tome lá um viva por conta da volta dos quadros. O mandante ia ganhar não cem milhões em dinheiro, mas um Picasso e um Portinari pra pendurar na sala de estar de seu castelo na Escócia e se fartar de admirar. Que são cinco, dez, vinte milhões diante disso? Mas o mandante preferiu bater pé. Não, cinco não pago. O que conta não é o valor das obras, mas o risco da operação. Esse bandido brasileiro roubou os quadros mole, mole, não enfrentou alarme, polícia, nada. Os quadros estavam lá, pedindo pra ser roubados. Devia era pagar menos, isso sim. O mandante não deixa de ter razão, mas aí se vê, mais uma vez, sua incompetência. Se tivesse se informado sobre a segurança do MASP, teria oferecido no máximo uns cem milzinhos. Foi falar em milhão, foi crescer o olho do bandido brasileiro, deu no que deu. A incompetência do mandante é tamanha que ele nem levou em conta a incompetência do bandido brasileiro. Acabaram os dois agarrados aos quadros, um em cada ponta, puxando pra lá e pra cá. Santa incompetência, qualquer criança sabe que coisa assim não termina bem. O bandido brasileiro dizia paga, o mandante dizia não pago, o mandante dizia dá, o bandido brasileiro dizia não dou, e puxa daqui e puxa dali até que a polícia estourou o cativeiro. Com os quadros reféns do bandido brasileiro por quase um mês, só podia dar nisso, que nessa coisa de estourar cativeiro em subúrbio a polícia brasileira é boa mesmo. Tá certo, me rendo, um viva pra polícia brasileira, que trouxe os quadros de volta pro museu. E agora vamos em massa fazer fila diante deles, que não é todo dia que um Pricasso e um Portinálio aparecem nessas praias e brasileiro é muito ligado à arte. Enquanto isso, o resto do mundo ri da incompetência da nossa bandidagem. Mais um viva pra ela!

6.1.08

réveillon é mesmo em copa

Quem me acompanha sabe que ano passado inventei de passar o réveillon em Ipanema e fiquei lá feito boba esperando uns fogos que nunca vieram, eu e mais meia dúzia de trouxas que também não tiveram réveillon. Pois este ano não quis conversa e fui virar 2006 e 2007 em Copacabana mesmo. O réveillon de Copa não tem surpresa, é sempre o mesmo, sempre igual. Lotado, música insuportável, fogos parcialmente encobertos pelo próprio fumacê, não tem erro. O réveillon de Copa se diz o maior do mundo, mas eu não acredito que seja, não. Réveillon feito ele tem em todo lugar. Vc vai lá com sua família, seus amigos, sempre os mesmos, sempre iguais, tirando este ano um grupo de gringos virgens de Copa (um deles pode estar me lendo agora, então hi, Holden), mas isso também volta e meia tem. À meia-noite (geralmente antes, vai entender essas coisas de Copa) tem aquele fogaréu que parece que não vai acabar nunca, todo mundo de branco pulando ondinhas, uns malucos mergulhando de corpo inteiro, papapá papapá, só que aí é que vc sente - aí, não, desde antes do fogueteio vc já tá sentindo - uma felicidade, uma satisfação de estar lá, uma certeza de que tudo na sua vida vai dar certo não só neste ano, mas na vida inteira mesmo. Isso, queridos, só em Copa. E depois vc ainda sai andando toda tranquila no meio daquele povaréu enorme, que eu nunca vi tanta gente junta e não ter problema. E nem venham me dizer que morreu não sei quem e explodiu sei lá o quê. Réveillon em Copa é quando o carioca desliga o radar, e o que não desliga é porque é bobo. Quem passa o réveillon em Copa sabe que ali é o lugar certo pra encerrar e começar todo ano. Não sei pra que que a gente perde tempo passando em outro lugar. Enfim, faço aqui esse textinho meio atrasado só pra dizer que desta vez ninguém me enrolou. Senhoras e senhores, não adianta, não, réveillon é mesmo em Copa. Quem nunca foi tá esperando o quê?

2.1.08

do que é feita a minha avó

Minha avó tem o pé gordo. Minha avó gosta da casa cheia. Minha avó não pode comer chocolate. Minha avó come chocolate. Minha avó mudou a cor do esmalte. Minha avó tem um jeito engraçado de falar o nome do meu avô. Minha avó chama a Dindinha de Zélia. Minha avó compra presente pra todo mundo. Minha avó me ensinou a bater clara de ovo. Minha avó me deu uma boneca alemã que falava. Minha avó usa broche de borboleta. Minha avó tem oitenta e nove anos. Minha avó faz aniversário dia dois ou três, nunca sei. Minha avó atrai loucos de todos os gêneros. Minha avó faz rabanada. Minha avó sempre acha que a comida não vai dar. Minha avó manda fazer comida demais. Minha avó faz frango só pra mim. Minha avó esquece às vezes. Minha avó só lava o cabelo no salão. Minha avó andou de metrô pela primeira vez comigo. Minha avó jurou que não anda mais. Minha avó nunca andou de ônibus. Minha avó nunca usou jeans. Minha avó nunca teve a chave de casa. Minha avó não come hortelã. Minha avó só faz o que quer. Minha avó me deu o anel de bodas de prata. Minha avó tem casa com terraço e quintal. Minha avó tem seus preferidos. Minha avó tem seus perseguidos. Minha avó fazia audiência de chapéu. Minha avó não faz mais audiência. Minha avó vai ao escritório todos os dias. Minha avó quebrou o braço. Minha avó adora novela. Minha avó dorme tarde. Minha avó ronca. Minha avó é mineira. Minha avó não perde um casamento. Minha avó quer que eu case. Minha avó conta histórias muito bem. Minha avó tem vinte netos. Minha avó é só minha.