2.11.11

risco de vida

O tripé dos sonhos de qualquer fotógrafo, levíssimo, dobrável e de excelente desempenho. A cronista sai de casa toda contente com a maravilha, mas, no que põe o pé na rua, descobre que ela é perfeita pra carregar na mão, mas na bolsa vira um trambolho. A cronista pára pra descarregar, encostada no capô do carro em frente. Mal começa a puxar o tripé, vê, pelo vidro quase preto, alguma coisa se movendo lá dentro. Forçando a vista, a cronista descobre um homem deitado no banco do motorista. A cronista morre de vergonha de ter sido flagrada usando o carro alheio como se fosse a mesa da sala e se aproxima pra se desculpar. Vê o homem rindo, tremendo, segurando o peito como se fosse infartar. O homem aponta desesperado pro tripé e a cronista se dá conta de que o objeto inofensivo, em sua capinha preta e dura, mais parece uma metralhadora, um fuzil ou outra arma qualquer. A cronista percebe que o homem, acordado no susto, se viu vítima de um assaltante, um sequestrador ou um simples bandido entediado que, na falta de coisa melhor, se preparava pra brincar de tiro ao alvo. Ao ver a cronista, moça formosa e delicada, saibam, leitores, relaxou, mas o ataque de nervos foi inevitável. A cronista começa a rir e gesticular em sinal de desculpas e é quando se dá conta do perigo. É a vez de a cronista tremer e segurar o peito, quase morrendo do coração. E se o bandido fosse ele? A cronista correu sério risco de vida! Mas tudo acabou bem. Nenhum dos dois estava armado, nenhum dos dois era bandido. Tiveram sorte. Numa cidade como esta, podiam ter levado um tiro.