25.2.16
satisfação
Cheguei perto com cuidado, olhei o corpo e as patas à procura das tais
listrinhas. Nada. Ainda assim, como não sou boa de vista, tenho instinto
sanguinário e detesto picadas de modo geral, não ia desperdiçar a oportunidade. É
hoje pensei, é hoje que acabo com ele. Há dias eu o procurava, mas o
desgraçado fugia, sumia, se camuflava, me deixava com cara de idiota no
meio da sala, vasculhando todos os cantos à toa. E agora lá estava ele,
vítima indefesa, pregado bem no meio da parede branca. Mesmo assim, era
preciso agir com cautela. São espertos, os da raça dele, um
deslize e já era. Planejei o ataque com pressa, sem tirar o olho dele. É
preciso usar um objeto grande e firme e dar um golpe rápido e forte, me
lembrei do namorado, caçador de mosquitos experiente e bem-sucedido.
Mas eu estava no trabalho, sem um jornal, sem um objeto que se
encaixasse nas especificações. E mais, sendo a sala toda de madeira
escura, se perdesse a chance sabe-se lá quando ia ter outra. Parti pra cima com o que
tinha: dois guardanapos usados pra comer um sanduíche. Pequenos,
molengos, mas guerra é guerra. Falhei, claro. O bicho saiu voando, rindo
da minha cara. Ah, mas o sangue me subiu à cabeça. Não vai ficar assim,
não, infeliz. Se não foi com os guardanapos, vai ser com as mãos mesmo.
Sou boa nisso até, volta e meia acerto. Saí rodopiando pela sala,
batendo palmas sem parar, acompanhando o voo frenético do mosquito.
Mosquito burro, pousou de novo. Pensou que estivesse livre do perigo,
né? Ledo engano. Ou vai ver ele estava só brincando comigo, confiante e
abusado como os mosquitos geralmente são. O grau de dificuldade havia
subido, ele agora estava estacionado em uma lâmina fininha de uma
persiana de alumínio, que ainda por cima oscilava por conta da
proximidade com o ar-condicionado. Só um golpe muito ninja mesmo daria
conta daquilo. Foquei, respirei, era tudo ou nada, tipo final olímpica.
Bati a palma mais forte, mais concentrada que consegui. Medalha de ouro.
Cortei o dedo, mas valeu. O Brasil pode estar perdendo a guerra pro aedes, mas comigo não tem disso, não. Matei.
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