16.11.14

nunca falha

A agulha nunca falhava. Acertava o sexo e o número de filhos de qualquer mulher que testasse. Se balançasse pra frente e pra trás, era menino. Se o movimento fosse circular, era menina. Se ficasse parada, não adiantava chorar, era sinal de que a pessoa não tinha filhos, nem ia ter. Quando chegou a vez da mãe, a agulha girou sem parar. Era menina! A mãe já sentia e agora estava confirmado. Só pra provar que a agulha estava certa, fez um exame de sangue logo no primeiro mês. Deu menino, sinal de que esses exames não valem nada. A mãe não se abalou. Em primeiro lugar, exame nenhum é 100% seguro e 0,001% faz muita diferença. Além disso, a mãe tinha um filho de seis anos e era claro que o sangue ainda tinha vestígios de macheza. Acima de tudo, valia a palavra da agulha. Se ela disse que era menina é porque era. Empolgada, a mãe começou a preparar o enxoval. Comprou montes de vestidos, lacinhos e brincos. Pintou o quarto todo de rosa e encomendou a mobília na mesma cor. O pai ainda tentou argumentar que não havia razão pra pressa, mas a mãe não tinha tempo a perder. Pra que esperar?  Era menina, a agulha não mentia. A agulha realmente não mentiu. O exame também não. No fim, não ganhou a fé, nem ganhou a medicina. Vieram dois, um menino e uma menina. Deu empate.