24.11.07

lenda urbana de verdade

A moça bonita entra no bar, prega os olhos na tela e não vê nada além do jogo. Aproveita os intervalos da partida pra mandar uns beijos rápidos pro namorado e é só. É louca por ele, mas a Seleção vem em primeiro lugar. Está vidrada na tevê quando outra moça se aproxima e joga dois copos de cerveja em sua cabeça. A moça bonita não entende nada, sobretudo quando a outra moça diz: "é pra vc aprender a não fazer mais isso!" Isso o quê, pensou a moça bonita e agora encharcada, que nunca tinha visto a outra antes. A outra moça perde a paciência de vez. Levanta-se, pega dois copos cheios de cerveja e parte pra dar uma lição na moça bonita. Vira tudo na cabeça dela, sem ligar pro bar lotado e, diante da cena, calado. Ainda se dá ao trabalho de explicar: "é pra vc aprender a não fazer mais isso!" E sai, satisfeita. O rapaz na varanda bate com o olho na moça bonita dentro do bar e mal se contém. Tenta se concentrar no jogo, disfarça, xinga o juiz, mas não consegue parar de olhar pra ela. É ataque, moça bonita, escanteio, moça bonita, tiro de meta, moça bonita. Chega a perder o gol por causa da moça bonita. E a danada retribui. Finge que só quer saber do jogo, mas volta e meia lança uns beijos rápidos pro radiante rapaz. É bom que sejam rápidos mesmo, ele pensa. Já pensou se a Maria vê?

20.11.07

vovó não perdoa

Vovó se diz ofendida com Fulana, amiga de longa data. É que não foi convidada pro aniversário da netinha dela. E a senhora queria ir, Vovó? Claro que não, mas a Fulana tinha a obrigação de me chamar. Não adianta argumentar que a Fulana lhe fez foi um favor, que ninguém aguenta festinha infantil, e ela bem sabe que a Vovó nem tem criança pra levar. Não, Vovó ergue o dedo, interropendo a defesa. A Laura também não tem e foi convidada. Foi mesmo desconsideração da Fulana, não tem desculpa. Não adianta discutir, Vovó tem sempre razão. E, de mais a mais, tem o direito de se ofender com quem quiser. Vovó conta também que foi convidada pelo filho da Fulana pro batizado da caçula. Tá vendo, Vovó, o problema era mesmo o incômodo da festinha, pro batizado a senhora foi convidada. Mas aí foi o Fulano, não a Fulana. Ele, sim, rapaz muito educado, sempre gentil comigo, vou mandar um belo presente. Como mandar, a senhora não vai? Ah, não vou, não, o Fulano é filho da Fulana. Ela não me prestigia, também não prestigio o batizado. Aí é caso de falar de advogada pra advogada: mas, Vovó, a senhora sabe que ofensas são personalíssimas, não se transferem de mãe pra filho. O argumento jurídico não vale de nada. Ofendeu, Vovó não perdoa nem a última geração. Manda entregar uma medalhinha de prata e dá o assunto por encerrado.