19.7.10

não ponham o zico na minha frente

Muito pequena, o primo dizendo que bom mesmo era o Flamengo e eu dizendo da boca pra fora que bom era o Botafogo do meu pai. Aí o primo me levando pra ver um jogo e pra ver que não tem nada maior do que o futebol, o Flamengo e o Zico. Eu entendo os mais novos, mas os da minha idade, os que viram o Zico jogar, torcendo pra outro time, nunca entendi. Sem provocação, nunca entendi. Muito pequena, o Brasil perdendo o jogo e a tia gritando Ziiiiico, sei lá se o Zico tinha ido ou não, mas a tia gritava. Ainda muito pequena, o juiz dizendo que tinha dado só mais um minuto pro Zico fazer o gol e não é que ele fez mesmo? Muito pequena e depois mais crescida, a certeza de que no último instante o Zico ia salvar a pátria. E salvava. E trazia aquela alegria que só o futebol, só quem ama o Pelé, o Romário e o Ronaldo sabe o que é, e quem ama o Zico sabe muito mais. O Zico avançando pelo meio do campo e toda vez, e até hoje, eu pensando que é assim que se faz. Aquela bicicleta que eu nem sei em que jogo foi, nem se foi, mas eu me lembro dela e foi tão linda. O Zico pulando pra comemorar o gol. O Zico indo jogar fora e fazendo aquele gol esquisito que ele diz que é o mais bonito, sem saber que todos são. O prazer de ir ao Maracanã e ver a bola, o batuque e as bandeiras com o rosto do Zico. Ainda hoje. E quando o time vai mal tem sempre alguém que grite Ziiiiico. E sempre tem também quem diga que o Zico na Copa não foi nada, que o Zico só foi o Zico no Flamengo. E me dá uma baita vontade de rir desse só. Agora, o Zico está de volta e há perigo à vista. O Zico ronda a Lagoa, arrisca da gente se esbarrar. Não quero, nem pensar. Não ponham o Zico na minha frente. Detesto me descontrolar.