31.10.06

o tkd é bom demais

Meninas, não percam tempo, adiram ao tae kwon do. O tkd é um esporte maravilhoso, dá força, flexibilidade, equilíbrio, tudo. Até aí, vcs pensam, grandes coisas, muito esporte dá. Mas o tkd tem uma vantagem que não é pra qualquer um. Sabe quando vc entra numa loja procurando uma meia e a vendedora vem te empurrando um casaco? Vc quer o vestido e ela tem um sapato que é a sua cara. E quando vc pede o biquíni e ela cisma de te vender chinelo, canga, bolsa, passagem de avião e férias na praia? Aí é que está. Vc vai comprar um top pro tkd e a moça diz: não quer ver bermudablusabolsatênis? Nessa hora, vc só responde: brigada, querida, é que eu uso uniforme. Tá, insuportável, calou a boca? Calou. Bom demais, o tkd é bom demais.

30.10.06

foto do noivo

A redação vem recebendo dezenas de fotos de jovens que afirmam ser o verdadeiro noivinho caipira. Na tentativa de desentupir nossa caixa postal, resolvemos publicar uma das fotos como sendo a do noivo, que, na realidade, só existe na nossa imaginação. Podem parar agora, rapazes.


29.10.06

pro noivo aposentado

O noivo, agora muito bem casado, já foi o terror das mocinhas. Não há quem não tenha conhecido - muitas de perto, outras, infelizmente, só de longe. As recusadas nunca se recuperavam do golpe. Ser recusada pelo noivo era ganhar um selo de má qualidade. Moça rejeitada por ele podia desistir que não arranjava outro. O noivo não bobeava, não. Rejeitava moça só em caso de muita falta de formosura. Ainda assim, as eleitas se sentiam especiais, como se fizessem parte de uma irmandade. Todas queriam entrar, as que entravam não queriam sair. O que nenhuma nunca soube é que o noivo já recusou a própria noiva. Na verdade, ele se casou duas vezes. Uma há pouco tempo, numa igreja mesmo. Outra, quando criança, numa festa junina. O casamento foi perfeito até a hora do beijo. Na hora H, o noivo, que depois nunca mais dispensaria moça alguma, não quis saber de beijar a noiva. E olha que era a caipirinha mais bonita do arraial. Ora, casamento sem beijo não é casamento, e os convidados não se conformaram. Insistiram daqui e dali, mas não teve jeito. O noivo empacou pra valer. Nisso, o padre, que era padre, mas não era bobo, tascou ele próprio um beijinho na noiva. A noiva, que também não era nada boba, aceitou de bom grado o beijo do padreco assanhado e foi-se embora com ele. O noivo não teve moral pra reagir, mas aprendeu a lição e resolveu nunca mais dispensar beijo nenhum. E foi assim, senhoras e senhoritas, que o noivo se transformou no maior arrasa-corações que já se viu. Tudo graças à noiva.

27.10.06

por que não no sofá?

O dono da sala chegou. O dono da sala fica sempre furioso quando me flagra dormindo no sofá. Não compreende o prazer de uma soneca sem compromisso no sofá da sua sala. O dono busca sempre o motivo, a explicação pra tamanha falta de civilidade. Busca em voz alta, claro, aos berros com quem quer que esteja passando. Nunca me questionou diretamente, nem ousou me acordar. Pelo menos, pensa que não. Eu fico bem quieta, esperando a fúria passar e descansando um pouco mais. Gostaria de saber o que o dono vê de tão misterioso numa dormidinha na sala, mas também nunca me meti a perguntar. Prefiro não me comprometer, fingir que não sei que ele detesta meu hábito. O dono da sala ainda não me viu. Breve vai haver a explosão.

pessoal

Fomos almoçar no restaurante australiano da moda, aquele da batata maravilhosa e filas intermináveis. A saltitante garçonete vem nos cumprimentar. Tudo bem, pessoal? Tudo bem, pessoal, penso. Já escolheram, pessoal? Ainda não, pessoal. A Pessoal passa o almoço inteiro assim, pessoal pra cá, pessoal pra lá. Numa tarde, deve usar a palavra umas quinhentas vezes, por baixo. Eu, no meu trabalho, gasto no máximo uns dez excelências por dia. Mesmo assim há quem reclame. A Pessoal certamente ficaria horrorizada. Como assim, pessoal, vc chama alguém igualzinho a vc de excelência? A palavrinha mágica, que tantos egos afaga, nuca me incomodou. Ao contrário, acho que mantém a ordem e evita o uso inadvertido de um pessoal ou coisa pior. Nunca me incomodou antes da Pessoal. Agora, chega a me alegrar. Deus me livre de ter que passar o dia dizendo oi, pessoal, tchau, pessoal. Prefiro meu excelência.

25.10.06

natação

Cartinha da linda e esbelta prima Laura, que tem o dom e não sabe:

mari, pra vc que teve acidentes com seu esporte e passou sério apertos, aí vai um depoimento para dizer que vc não está sozinha!!! Tudo começou quando eu sai das minhas aulas de hip-hop e passei muitos meses sem fazer coisa alguma. Até que a situação chegou a um ponto no qual eu tive que adimitir que estava um pouco cheinha, na verdade eu estava ( estou ) bem gorda mas minha mãe diz " cheinha", então ultilizo este termo , e estava cansada de ficar sem fazer nada, por isso tive que arranjar algum esporte. Não sou como o leonardo que tem um esporte de paixão , eu não tinha a minima idéia o que fazer, só sabia que tinha. meus pensamentos voaram alto: nado cincronizado? lutas? dança ? basquete ? handbol ? ............ NATAÇÃO!!!!!! Não que eu goste, mas como é uma atividade que eu já fiz e eu era boa escolhi ela. Depois veio outro dilema. aonde fazer natação??? fui ao fluminense primeiro mas era muita gente, as pessoas afogavam umas as outras, cruzes!!! depois fui a swim center( academia ao lado da minha casa) mas a piscina era muito pequena com um impulso chegava ao outro lado, e finalmente, jockey o escolhido. para eu entrar na aula eu tinha que fazer um teste para ver qual a turma que eu ia entrar, e para eu fazer esse teste minha mãe escolheu uma tarde feliz , pacifica, até meu irmão foi junto pra me dar apoio. cheguei lá orgulhosamente sem conhecer ninguem, e na mesma hora eu tive a impressão que todos os que nadavam (eram muitos) param de nadar e me encaram com um cara feia dizendo "quem é essa estranha???" , mas tudo bem aquilo não me abalou, fui ao vestiario me troquei, coloquei uma toca emprestada e entrei na piscina. foi um longo caminho do vestiário a piscina,toda aula é. minha banha vai balançando ou pelo menos eu acho que vai , é duro.... mas enfim entrei na piscina ai tinha que nadar crau , ida e volta. fui rápida no começo mas fui ficando ofegante e quase naum chegei do outro lado, mas fiz a volta toda . quando chegei quase sem conseguir falar,bufando , olhei para a arquibancada e vi meus dois parentes me dando apoio, minha mãe dizendo : "foi otimo minha filha!!!" e meu irmão tendo um ataque de risos que a muito tempo eu não o via ter. Mas depois que o teste acabou orgulhosa de não ter desmaiado (tive que disfarçar que não estava cansada) comprei meu oculos e minha toca e me matriculei pra valer na natação. E até hoje eu tenho estado firme e forte tirando o episodio em que o professor pediu para eu nadar borboleta mas eu nem sabia o que era isso então inventei, mas quando chegei ao outro lado ele estava rindo muito , e quando eu sempre erro o nado ele fica me explicando fora dágua é muito patetico só vendo pra crer.Sabia que eu até fiz uma amiga??? É isso mari espero que esse relato tenha feito voce se sentir melhor, pena que não tive um herói para me tirar desses momentos vergonhosos
beijão laura
ps: essas situações pelas quais eu passei só não se comparam quando a prof. na sala de aula na frente de todo mundo me perguntou quanto era 24 divido por 3 e eu não sabia, ou quando veio uma borboleta em cima de mim no passeio e eu levei um susto e cuspi todinho na minha bolsa novinha e na minha blusa e todo mundo ficou com nojo de mim o resto do dia

24.10.06

vovó agora nega

Fiquei presa numa estrada indiana por conta de uma vaca preguiçosa. Com Vovó. Enquanto esperávamos a boa vontade da divindade, Vovó e o guia tagarelavam em animado portunhol. Jamais saberei como chegamos a esse ponto, mas lá pelas tantas Vovó resolveu explicar como se faz doce de sangue de boi no Brasil. Eu não conhecia o doce e não podia imaginar momento mais inconveniente pra conhecer. O boi é marido da vaca, e a vaca, como se sabe, é sagrada na Índia. O guia, estupefato, perguntou: mas de sangue de boi? E Vovó: pode ser de vaca, tanto faz. O guia fez cara de quem não estava acreditando, na barbaridade brasileira ou na desfaçatez de Vovó. Implorei a ela que parasse, mas esse é o tipo de pedido que tem efeito contrário e Vovó, claro, empolgou-se ainda mais. Dali em diante, resignei-me, sabendo que nada poderia detê-la. Encravei profundamente as unhas na coxa direita, buscando, com a dor física, compensar meu desconforto. O guia, cada vez mais verde, também aguentou firme enquanto Vovó descrevia os detalhes do ritual: o corte, a sangreira, a agonia do bicho, que tornava o doce ainda mais gostoso. Tudo diante da simpática vaquinha que se espreguiçava a nossa frente. Vovó agora nega. Diz que o sangue não era de boi, mas de porco, que nunca falaria de sangue de vaca na frente de um indiano e tal e tal. Celebremos, então. O horror nunca existiu, a estrada engarrafada nunca existiu, se bobear nem a viagem à Índia existiu. Posso finalmente dormir em paz. Foi tudo um sonho ruim e essa cicatriz na coxa direita saiu sabe-se lá de onde.

23.10.06

pra flor sonolenta

A apresentação de final de ano, pra qual nos preparamos por tanto tempo, havia finalmente acontecido. Interminável, como sempre ocorre quando todas as alunas de todas as classes da academia de balé têm que dançar uma, quem sabe duas vezes. Não me lembro do meu papel. Certamente, fui um coelhinho, ratinho, qualquer coisa assim. Irrelevante, como tudo mais naquela noite. As alunas brigaram por seus papéis, ensaiaram horas a fio com professoras tiranas, mas no dia seguinte só o que importava era a dança das flores. Pequenas bailarinas deitavam-se dentro de enormes flores de papel colorido, levantavam-se, davam um ou dois passinhos pra deleite dos pais orgulhosos e voltavam pra flor enquanto as mais velhas dançavam. Pois uma das florzinhas dormiu, não resistiu até o fim da dança. A coreografia acabou, as alunas se retiraram e a florzinha teve que ser resgatada pela desconsolada professora. Só se falava nisso. O lindo cenário foi esquecido, a música, o figurino, o desempenho exemplar das alunas, nada tinha importância. Só o que contava era a flor. Imagino como deve ter sido difícil pra ela enfrentar as aulas seguintes, recheadas de gozações. Imagino que deve ter odiado o papel, os ensaios, o dia em que entrou na academia e mesmo o dia em que nasceu. Sinto um pouco de pena da flor sonolenta por isso. O que mais sinto, no entanto, ainda hoje, é inveja. Eu teria dado tudo pra ser uma daquelas flores e dormir em pleno palco.

21.10.06

celebrando a primeira semana

Fui ver meu professor de tae kwon do lutar. Na verdade, fui ver o campeonato, nem sabia que ele ia estar lá. O fato é que o professor se sentiu honradíssimo e, após receber meus cumprimentos pela vitória na faixa preta, declarou, delirando de emoção: obrigado pela presença, o atleta precisa desse apoio. Achei melhor não esclarecer. Espero que não esclareçam também, mas, diante das mensagens recebidas ao longo da semana, só me resta dizer, delirando de emoção: obrigada pela presença, o artista precisa desse apoio!

20.10.06

presa nas ferragens

Depois de semanas me recuperando do horrível tombo na banheira, volto à vida normal. Tô eu lá no curso, concentrada, anotando tudo que o professor diz, minha caneta cai. Podia ter levantado pra pegar, mas é muito mais fácil esticar o braço. Podia ter reconhecido que minha mão não chegava lá, podia, mas preferi esticar os dedinhos. E triunfei. Fui rolando a caneta pouco a pouco, tava quase... sabe quando o jogador chuta de fora da área, sem chance pro goleiro? Pois é, não teve jeito, caí com tudo. Agora imagina a cena: uma sala lotada, subitamente uma aluna desaparece. Corta pro chão, tá lá a aluna, espatifada, enroscada na carteira, presa nas ferragens. Tenta se levantar. Como? Já viu cavalo quando cai, besouro de barriga pra cima, perninhas para o ar? (Obrigada, meu deus, não estava de saia) Vinha passando outra aluna: desculpa, desculpa o quê?, não vi que vc tava caindo, tudo bem, também não. Levantei com calma e classe, fingindo até um certo tédio, como se alunos e carteiras despencassem juntos todos os dias. Passei o resto da aula pensando que o pessoal das últimas filas vai todo passar na prova. Não há como ver uma cena dessas e não cair na gargalhada. Não há. Ninguém deu um pio. Quem consegue isso, consegue qualquer coisa. Eu não agüentei. Gargalhei horrores por dentro. Eu sou a prova viva de que um raio cai duas vezes, sim, no mesmo lugar. Começo a ficar com medo de que ele possa cair várias vezes. E eu idem.

19.10.06

horácio

O mendigo maluco mora no meu bairro desde que eu nasci. Às vezes na minha rua, às vezes em outra, está sempre por aqui. Cada vez mais alienado, o mendigo imundo gasta o dia praguejando em silêncio, apontando o dedo na cara de quem passa. Nos últimos tempos, o mendigo andava sumido. Agora descobri a razão. Quem contou foi um morador do bairro que cuida do mendigo, arranja comida, corta as unhas, dá um banho quando consegue. O protetor assumiu essa função há mais de trinta anos. Estava com ele quando o mendigo passou mal e deu entrada num hospital público. Deu entrada, mas não deu saída. Sumiu, o mendigo sumiu. Ninguém sabe dele. O protetor, desesperado, já rodou hospital, vizinhança, IML, já fez de tudo. O hospital não sabe nem dizer se o mendigo morreu. Pode estar morto, fugido, perdido, pouco importa. O hospital público é um buraco negro, engole os pacientes e assunto encerrado. Eu agora ando na rua procurando o mendigo. O protetor não se conforma e eu também não. O bairro não pode se conformar. O Horácio tem que voltar.

18.10.06

derrubando o mestre

Ele é faixa preta, eu sou branca. Não importa. Derrubei o mestre com um golpe só, logo no nosso primeiro encontro. Quando entrei no tae kwon do, o mestre estava competindo na Coréia. Tempos depois, chegou o dia da nossa primeira aula. Achei o mestre maravilhoso, invencível, um verdadeiro samurai. No fim da aula, parti pro vestiário, disposta a nunca mais treinar com outro. Eu era a única mulher naquele dia, então aproveitei o espaço todo só pra mim, fiquei horas, me espalhei. Tô lá espalhada quando sinto uma movimentação na porta, seguida daquele barulhinho de lá vem desgraça. Tranquila e infalível como Bruce Lee, agarro minha calça, jogo em cima do corpo e me cubro da melhor maneira possível. Não fosse pelo culotinho e pela ponta da calcinha aparecendo, ninguém nem diria que eu estava pelada da cintura pra baixo. Olho pra porta e vejo o mestre entrando pelo vestiário. O olhar de horror que ele me lançou, nem a mais feia, gorda e celulitada mulher arrancaria de um homem comum. Aquilo é olhar faixa preta, só mestre consegue. Ele chega cambaleou pra trás, levou um soco no plexo, um chute na cabeça, todos os golpes que eu conheço e os que não conheço ainda de uma vez só. Bateu a porta na minha cara com tudo e gritou, já à distância, desculpa, tranca a porta. Tranquei, o mestre mandou, eu tranquei, mesmo com o leite já totalmente derramado. Fiquei ali dentro, curtindo o constrangimento do mestre, coitado (eu, tratando-se de médico e mestre, não tô nem aí). Pra se ter idéia, o mestre pede licença toda vez que me toca. E olha que ele me toca umas setenta vezes por aula. Pega na perna, licença, puxa o braço, licença, ajeita a barriga, licença. Tenho vontade de dizer relaxa, mestre, pode levar. Dei um tempo pro mestre dar uma volta, beber uma água, e saí. Fui assinar minha presença, toda natural. O mestre, também fingindo naturalidade, como se pudesse me enganar, pediu desculpas, explicou que sempre entra nos vestiários antes de fechar a academia pra recolher algum pertence esquecido, apagar as luzes, além, claro, de flagrar alunas desprevenidas. Disse que não viu que eu ainda estava lá, que eu tinha que trancar a porta sempre, se desculpou de novo e tal. Falei que ele não precisava se desculpar, imagina, eu que eu que tinha esquecido de passar o trinco. Falei isso, mas minha vontade era outra. Tive que me segurar pra não agradecer por ele ter me ensinado o mais genial dos golpes. Nas competições futuras, se é que virão, quando me vir apertada, nada de morder orelha. Abaixo o dobok (quimono, pros não iniciados) e pronto, derrubo o inimigo. Vou ser campeã fácil.

17.10.06

a ira da mulher casada

Eram todos amigos. Paula, Pedro, Luís, a mulher casada, o marido da mulher casada. Pedro havia decidido cortar os longos cabelos e o assunto era esse. Pedro discutia o estilo, o tamanho, comparava-se aos galãs da novela das 7, das 8, a todos os galãs. A conversa já ia longe quando Paula resolveu opinar. Por que vc não corta como o do marido da mulher casada?A mulher casada olhou para Paula. Então Paula olhava pra seu marido, então conhecia seu corte de cabelo. Sim, o corte era o mesmo há anos, mas isso não importava. Paula havia olhado pra seu marido, certamente pensava nele, sonhava com ele, ia roubá-lo na primeira oportunidade. Não disse nada. Levantou-se, esticou a mão e acertou um único tapa na cara de Paula. Um tapa definitivo, que mostrava quem era quem e quem era de quem. Eram todos amigos. Ninguém disse nada e cada um saiu pra um lado. A Paula diz que foi só um comentário. Só, na cabeça dela. A Paula não sabe que cabeça de mulher casada tem outra medida. Só, pra mulher casada, é não olhar, não falar, de preferência, nem pensar. A Paula não sabia. A Paula também não sabe ainda que, vencido o enorme hematoma que ela agora ostenta na cara, vai carregar pra sempre uma marca, uma cicatrizinha causada por um dos inúmeros anéis que cobriam a mão certeira da mulher casada (terá sido a aliança?). Marca de mulher que fez o que não devia, marca de mulher que olhou pro homem amigo, pro homem alheio. A Paula não sabia que não podia. A irada mulher casada também não sabe, mas, todos os dias, quando a Paula se olhar no espelho, vai pensar no homem dela. A mulher casada nem desconfia. Quantas não terá marcado e quantas ainda não marcará com a lembrança do seu marido?

16.10.06

celulares de outro mundo

Vovó diz que passou a acreditar mais nas almas depois da invenção do celular. Alguns celulares parecem mesmo coisa de outro mundo, mas a declaração me chocou. A explicação, mais ainda. Vovó, católica fervorosa, confessa que não sabia onde as almas acumuladas ao longo dos séculos ficavam esperando o Juízo Final, o que a fazia duvidar um pouco da coisa toda. Depois do celular, Vovó não duvida mais. Se milhões de ligações se cruzam no ar, se um sujeito no Brasil liga pra outro no Japão, enquanto o da Índia fala com o do Canadá, se milhares de sujeitos ligam pra milhares de sujeitos ao mesmo tempo, se há espaço pra todas as ligações, há espaço também pras nossas almas. Podemos dormir tranquilos. Estão todas, com certeza, guardadas em algum lugar.

14.10.06

me liga

Titia nos conta que viu um conhecido do outro lado da rua. Acenou, fez sinal de me liga, mas o sujeito fez cara de quem não entendeu. Afinal, pergunta, que gesto vcs fazem pra pedir que alguém ligue? Ué, fecho a mão, deixando o mindinho e o dedão de fora, e encosto na orelha. Titia, não. Titia fecha a mão, estica o indicador e faz voltinhas no ar. Titia não é nem do tempo do telefone de teclas. Titia é do tempo do telefone de disco, que esfolava os dedos dos mais insistentes. Eu também sou desse tempo, confesso, mas não dou pinta. Me liga, comigo, é só na base do hang loose. Com os demais ouvintes também. Diante da pergunta, todos apontamos o mindinho pra um lado e o dedão pro outro e colamos a mão na orelha. Todos, menos vovó. Vovó fecha o punho e roda o braço. Vovó é do tempo da manivela.

cavalo vermelho

A visita traz um presente e ele é colocado em lugar de destaque, já reservado pros presentes novos. Com o tempo, vai se deslocando pela sala até passar pro quarto branco. Dali, segue pro sítio ou, pior dos destinos, pra fazenda. A fazenda é o fim da linha, presente quando vai pra lá é porque é muito ruim mesmo. Há presentes que são verdadeiros testes de resistência. Suportar aquela peça horrível no meio da sala não é fácil, mas a dona da casa aguenta firme. Volta e meia alguém ainda pergunta onde ela comprou aquele objeto tão bonito. A dona da casa abre um sorriso e diz: não é lindo? Foi Fulana que me deu. Às vezes, a peça já está no quarto branco, pronta pra seguir viagem, quando o presenteador resolve aparecer. A dona da casa limpa a peça, coloca no melhor lugar da sala e finge que nunca a tirou dali. Mal a pessoa vira as costas, quarto branco de novo. Nós conhecemos o mecanismo. Todo presente recebido é uma brincadeira nova. Ficamos controlando, vendo quem conhece ou não o gosto da dona da casa, apostando quanto tempo cada objeto sobrevive na sala. O cavalo vermelho é o destaque do momento. O sueco que o trouxe já partiu há meses e tão cedo não volta, mas ele continua ali. A dona da casa gostou do cavalo vermelho. Ele pode não estar mais no lugar de destaque, pois lá só ficam os presentes recém-chegados, mas continua na sala. A expectativa dos primeiros dias até já passou. Agora, quando chego, apenas confirmo que o cavalo está lá. Nem tem mais graça. O cavalo vermelho cedo ou tarde perderá seu lugar, como tudo na sala mutante, mas é, desde já, um dos nossos grandes campeões.

13.10.06

viublógui

Os desafio que a pessoa comum enfrenta pra configurar um blog... Cada passo é uma novela, perde-se um dia inteiro só pra dar conta do básico. É um tal de preview, save, view blog, preview, save, view blog, save, view blog, save, view blog, viewblog, viublog, viublógui. Minha filha vai se chamar Catarina. O filho, tô pensando em chamar de Viublógui.

12.10.06

meu herói

Machuquei meu dedo num chute mal calculado na mão de samurai do meu mestre. Ele passa bem, nem sentiu. Eu passo mal, mas alguns dias de imobilização hão de resolver. Adoraria dizer que houve uma fratura dramática, mas foi só um contusão forte mesmo. Isso tudo é detalhe. A bola roxa no pé é detalhe, a brava entrada no centro médico, arrastando o membro danificado, é detalhe, a cadeira de rodas em pleno Barrashopping, arrebanhando tantos olhares e sorrisos caridosos, é detalhe, o raio x na ala infantil, cercada de crianças e bichinhos, é mero detalhe. Tô escrevendo pra saudar meu héroi. Tô lá sentada na academia, com um sacão de gelo no pé, quando vejo entrar Marena e Miguel. Tinham ido conhecer a academia. Tudo desculpa pra me ver lutar. Tento levantar e quem disse que o pé firma no chão? Derrotada, resolvo pegar um táxi e os dois fazem pouco caso, dizem que é tão pertinho, logo ali. Logo ali pra quem não tá fazendo força pra não chorar, mas tudo bem. O Miguel argumenta que tá muito trânsito, vai demorar horas, por que eu não vou no colo dele? Só pode estar de gozação com a minha cara, né? Mas ele insiste, eu não tenho um tostão e resolvo ver até onde ele vai. E não é que veio até a minha casa? Dá pra imaginar a cena? Eu, de cavalinho, pelas ruas. O Miguel arfava, mas, como o saudoso Bretão, resistia. Marena nos acompanhava na maior naturalidade, de vez em quando arrumando o chinelo que ameaçava cair do meu pé. Admito que a presença da Marena me deu uma certa tranquilidade. Não era uma doida na garupa do namorado. Era uma moça digna, ferida, sem alternativa. O Bretão - ai, desculpa, Mi, fui pensar no Bretão e agora vou ter que te chamar assim, mas quem conheceu o bicho sabe que é um elogio - quase refugou na ladeirinha de entrada do meu prédio, mas honrou o apelido e foi em frente. Visualizem a cena. Eu, passando pelos porteiros, gloriosamente montada no bravo louro que ofegava logo abaixo. Alguém já subiu 20 andares de elevador nessas condições? Tralalalá, dá um super efeito na freada. Continuem visualizando. Eu, entrando em casa, ainda no louro, bem no meio do jantar. Mamãe, papai, vovó, irmãos, a turma toda. Não entenderam, acharam que era brincadeirinha. Não perceberam que o Br..., quer dizer, o Miguel realmente me trouxe pela rua. Até eu fiquei cansada. É duro manter a posição montando a pelo. Chegamos os dois encharcados. O Miguel, do esforço. Eu, dele. Bom, o textinho é pra homenagear meu héroi, pra agradecer, pra registrar o feito histórico. Também pra dizer que tomei gosto. Se alguém se candidatar, estou às ordens. Podemos até organizar um campeonatozinho, um "Não deixe a balzaca cair". Quem se habilita?

um blog por timidez

Um blog por vergonha de mandar o que escrevo a um monte de gente, ainda que peçam. Um blog porque sabe-se lá se querem mesmo e é chato ficar enviando textos goela abaixo de todo mundo. Um blog porque assim só me lê quem quer.