19.10.06

horácio

O mendigo maluco mora no meu bairro desde que eu nasci. Às vezes na minha rua, às vezes em outra, está sempre por aqui. Cada vez mais alienado, o mendigo imundo gasta o dia praguejando em silêncio, apontando o dedo na cara de quem passa. Nos últimos tempos, o mendigo andava sumido. Agora descobri a razão. Quem contou foi um morador do bairro que cuida do mendigo, arranja comida, corta as unhas, dá um banho quando consegue. O protetor assumiu essa função há mais de trinta anos. Estava com ele quando o mendigo passou mal e deu entrada num hospital público. Deu entrada, mas não deu saída. Sumiu, o mendigo sumiu. Ninguém sabe dele. O protetor, desesperado, já rodou hospital, vizinhança, IML, já fez de tudo. O hospital não sabe nem dizer se o mendigo morreu. Pode estar morto, fugido, perdido, pouco importa. O hospital público é um buraco negro, engole os pacientes e assunto encerrado. Eu agora ando na rua procurando o mendigo. O protetor não se conforma e eu também não. O bairro não pode se conformar. O Horácio tem que voltar.

9 comentários:

maria rezende disse...

Olha que coisa: a Olga, minha amiga e dona do Arenas Cariocas, também está sentindo a falta do Horácio, que eu confesso, envergonhada da minha botafoguice recente, que não sei quem é.
Depois vai lá no www.arenascariocas.blogspot.com, e aproveita pra interagir no mundo bloguístico!
também vou escrever sobre esse assunto, pra não ficar por fora!
beijo, maria

Anônimo disse...

Vamos todos nos empenhar para encontrar o Horácio! Ele não pode sumir assim, não é? Alguém tem que dizer onde está! E olha que este mendigo tinha dono. Coitados dos outros tantos sem dono! Beijo

Anônimo disse...

Quando pequeno morria de medo do Horácio.

Anônimo disse...

Um mendigo a menos nas ruas.... Por mim o Horacio pode continuar sumido!!!!

Anônimo disse...

Rodrigo sente falta do Horácio também, que ele adora! Mas que coisa, hem? Onde será que anda? Mendigo não morre facilmente não... Helena

Anônimo disse...

Pois é. É isso aí que a Helena falou: sempre me impressionou a resistência do Horácio; como que ele não morria, vivendo como vivia? Para mim este sempre foi e sempre vai ser o grande mistério do Horácio.

Anônimo disse...

Voltando a Botafogo, também senti falta do Horácio. E lamentei nunca ter feito nada por esse "vizinho". Apenas um gesto de solidariedade lhe dediquei um dia. Explico: passando pela calçada, em frnte à Farmácia, surpreendi um empregado da limpeza de um edifício divertindo-se às custas do infeliz mendigo tentando expulsá-lo da calçada com o jato de água com que trabalhava. Senti um grande dó e procurei defendê-lo colocando-me entre ele e o jato enquanto "fechava" a fisionomia para o empregado que ria muito daquela situação tão vergonhosamente constrangedora. Foi o tempo suficiente para que o pobre e inofensivo mendigo se livrasse daquela perseguição maldosa. Um ser humano tratado como se fosse um monte de esterco de cão que estivesse ali poluindo aquela calçada! Quanta lição aprendemos com a vida! "In memoriam" de Horácio,a "outra Vó".

Anônimo disse...

Tb ando procurando o Horácio...
Bjos, ciça.

Anônimo disse...

apoiado!!!!!!!!!!!!!!!
laura