25.8.07

nem tanto

A madame esquece os chocolates no táxi. Foram comprados na esquina, não na Suíça ou na Bélgica, mas a madame não se conforma com a perda. Entra em casa afobada, corre pro interfone atrás do motorista. Tarde demais, mas a madame não se rende. Determinada, liga pra cooperativa, relata o ocorrido, se descabela. Só sossega quando a telefonista promete que o motorista vai voltar mais tarde pra entregar o tesouro. Obrigação dele, ela diz. Quem mandou não verificar se a cliente tinha esquecido alguma coisa? Passada uma hora, a madame, sem dar ouvidos à turma do deixa disso, telefona de novo. A telefonista atende e ela explica que é Glória, a dos chocolates, que está querendo saber quando é que o motorista vem. No fim do expediente? É que meus filhinhos estão aqui chorando, se recusam a dormir sem os chocolates que a mamãe ficou de trazer. Dá pra me dar o celular dele? Obrigada, assim eu mesma acerto tudo. Não vai ficar com meus chocolates, resmunga, enquanto telefona. Alô, seu Antônio, é Glória, a dos chocolates. É que meus netinhos estão aqui chorando... Netinhos! Filhinhos pra desconhecida, netinhos pro conhecido. É, parecia que os chocolates tinham acabado de vez com o juízo da madame, mas nem tanto, nem tanto.

7.8.07

timidez

Maria chega radiante, exibindo as rosas que ganhou de Pablo com um cartãozinho anônimo. Não foi ele, retruco. Como é que vc sabe? Tenho certeza. Pois eu é que tenho certeza de que foi ele. Tem como, se o cartão não está assinado? Porque o Pablo, ora, só o Pablo pra me mandar rosas. E sem nem assinar, tão romântico! Pois eu aposto que não foi ele, tanta gente pra te mandar flores. Quem, por exemplo? Ué, por exemplo, só por exemplo, eu. Vc, e a troco de quê? Pronto, agora romantismo é exclusividade do Pablo, é isso? Claro que não, mas daí a dizer que foi vc já é exagero. Eu sei, eu avisei que era só um exemplo, até porque se eu fosse mandar flores pra uma mulher compraria logo dúzias e dúzias e não um buquezinho mixuruca feito esse. Muquirana como vc é, duvido. Pois eu é que duvido que tenha sido o Pablo. Pode duvidar o quanto quiser, foi ele. Pablo aparece. Maria, encorajada pelas rosas, pula em seu pescoço. Me afasto pra não ver a cena, amassando no fundo do bolso a nota da floricultura.