20.1.07

aposta

Os cinemas de hoje, apertados e idênticos, não são de nada. O Ópera é que era bom. Enorme, com poltronas que corriam pra trás e não pra cima e tela que guardava uma distância respeitosa da gente. Foi onde eu vi e revi montes de filmes. O São Luiz e o Largo do Machado também eram sensacionais. Não sabia e ainda não sei qual era qual. Sei que um ficava dentro da galeria e era um pouco menor, mas ainda assim imenso. O outro, que ao ser retalhado em quatro me causou uma das maiores dores da vida, era gigantesco. A gente podia ir ver qualquer estréia lá sem medo, sempre sobrava ingresso. Tinha também o pornô da São Clemente. Esse eu não sei se era grande, mas era maravilhoso. O letreiro exibia sem pudor os títulos em cartaz, todos extremamente lúdicos. "Pintos voadores encontram vaginas descontroladas" numa semana, " A volta das enfermeiras suculentas" na seguinte. Cinema era a maior diversão. Pra completar, o pornô da praia, meu favorito. O letreiro sempre foi o mesmo: Dois Filmes de Sexo Explícito. Mesmo sabendo de cor, nunca deixei de ler. O Dois Filmes de Sexo Explícito foi um dos grandes responsáveis pelo meu equilíbrio emocional na infância. A qualquer dia ou hora, tava lá: Dois Filmes de Sexo Explícito. Nunca mudava. Isso dá segurança à criança. Um dia, o Dois Filmes fechou. Me desestruturei, acabei na terapia. Se o Dois Filmes de Sexo Explícito tinha acabado, tudo podia acabar. Quando eu procurasse, não ia ter casa, pai, escola. Foi um período difícil. A responsável pela tragédia, soube depois, foi titia, que sussurou no ouvido do prefeito que cinema pornô perto de colégio era um perigo. Não é verdade, aquele cinema sempre foi meu amigo. Ele e os outros todos de quando eu era pequena. Os cinemas de hoje não se deixam envolver, não fazem amizade, são uns insensíveis. Ninguém vai sentir a falta deles. Aposto.

17 comentários:

Anônimo disse...

Hum!... Sinal vermelho se acende quando se entra nessa de saudosismo ("no meu tempo..."). Desce daí, menina, já!

Mariana disse...

Eu já nasci falando do meu tempo, anônimo. O duro é que cada vez as pessoas estranham menos. Terão se habituado?

Anônimo disse...

Dizem por aí que uns dos primos, ex estudante do Andrews, era cumprimentado pelos moços do caixa quando passava pela porta...

Anônimo disse...

O da galeria se chamava Condor, querida, e virou, prá azar de todos, igreja evangélica.

Anônimo disse...

Pior que saudosismo é preconceito, Cláudia!

Anônimo disse...

A Cláudia tem razão, porque não um Bingo legal, hem?

Anônimo disse...

Bingo? Onde vamos parar?

Anônimo disse...

"Pintos voadores"...sensacional!!!

Anônimo disse...

e eu que pensava que esses cinemas tinham acbado antes de vc nascer, mariana.

Anônimo disse...

Os títulos do pornô da praia me intrigavam tb, Nana.

Anônimo disse...

logo nessa croniqueta todo mundo anonimo...

Mariana disse...

pois é, anônimo último, aqui só a cronista diz a que veio.

Anônimo disse...

gente daquele tempo tem de dar bom exemplo pra nova geração... não me comprometam...

Anônimo disse...

E você, que pena, não foi contemporânea do Rian, imagina(!), um cinema em plena Avenida Atlântica, de cara para o mar. Esse, eu lamentei. Olha isto:"QUEM NÃO SENTIU A PERDA DE UM CINEMA FREQUENTADO DURANTE ANOS TEM MEMÓRIA NUBLADA OU CORAÇÃO DE PEDRA " - Carlos Drummond de Andrade.

Mariana disse...

Se tivesse sido, não confessaria. Que bandeira!

Unknown disse...

... mas olha só no que vc foi se agarrar pra sentir segurança, ainda qdo criança hein?! Cada uma...
Com essa eu quase morri de rir!
bjos

Anônimo disse...

freud explica..