10.5.20

eras

Nós, os da era pré-internet, jamais saberemos o que é nascer e crescer num mundo duplicado, real e virtual. Nós sequer entendemos que para os internéticos não existe distinção entre real e virtual, é tudo um mundo só. O que acontece em um é imediatamente compartilhado no outro. Se não for, é como se não tivesse acontecido. Desconfio que para os internéticos também não exista distinção temporal. O que já passou fica gravado, pode ser presente de novo. E o que é presente não vira passado, é postado, é jogado para frente, é eternidade. As crianças internéticas já crescem sabendo que uma versão pequena delas mesmas mora nos celulares, repetindo como macaquinhas incansáveis tudo o que a versão grande faz. Nós, os de outra era, podemos imaginar, mas jamais saberemos, jamais sentiremos, o que é isso. De tudo, é o que mais me intriga. Mas paro por aqui porque não vim pra filosofar. Vim pra dizer que Nina quer morar na internet. Nina, enfurecida porque o sinal está fraco e o desenho nunca carrega, diz que quer morar na internet. Não é força de expressão. Nina é internética, está falando sério. Deve achar que a internet é um planeta de verdade, uma nuvem encantada em que moram os personagens dos desenhos, em que tudo pode acontecer, um país das maravilhas no qual o sinal está sempre forte e a bateria nunca acaba. Vai ver que é mesmo, ela deve saber mais do que eu. Seja como for, gosto da ideia de morar na internet. Queria poder morar lá, queria que todos nós pudéssemos. Entraríamos na página mundosempandemia.com e lá viveríamos felizes para sempre. Como nos contos de fadas, que sempre terminam bem, que atravessam as eras.

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