11.4.20

páscoa

De todas as festas, a preferida dele era a Páscoa. Tinha fascínio por chocolate, desde pequeno. Adorava entrar nas lojas e ver os tetos brilhando com ovos de Páscoa de diferentes cores e tamanhos. Ia comendo ao longo de semanas os que ganhava, um pedacinho por vez, para durar mais. Não tinha dúvida da profissão que seguiria. Desde sempre quis ser chocolatier, ou chocolateiro, como preferia dizer. Sua loja de chocolates era a melhor da cidade, com uma variedade inesgotável de produtos. Vendia bombons, barras, bolos, sorvetes, tudo que pudesse ser feito com chocolate. A especialidade, claro, eram os ovos da Páscoa, que mais uma vez vinha chegando. A deste ano, no entanto, não ia ser como as outras. A cidade inteira estava em isolamento, por conta da pandemia. A loja nem abriria, como já acontecia há semanas. Nenhum ovo seria vendido, nenhum centavo seria recebido. Ia ser Páscoa, mas não ia ter festa, não ia ter criança hipnotizada pelos ovos, sem conseguir escolher, não ia ter gente provando os sabores novos, elogiando, nada. Nem por isso o chocolateiro desistiu de fabricar seus ovos. Fez vários, um mais bonito que o outro. Ficou um bom tempo sentado, apreciando suas criações. Tão bom quanto fazer era ficar depois olhando os ovos, postos lado a lado em cima do balcão. Comeu um, como sempre fazia. Os outros botou na vitrine, os mais vistosos na frente, pra atrair a atenção. Ficou por lá esperando os clientes, mesmo sabendo que ninguém viria. Páscoa pra ele era isso, criar e vender ovos de chocolate.  O que não tinha jeito, não tinha jeito. A parte dele ele ia fazer.

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