10.10.14

o preferido



Com ar muito solene, chamava às vezes um neto para dar um dinheirinho. Adorava o ritual. Passava um tempo mexendo na carteira, exibindo notas de dez, vinte, cinquenta, criando expectativa. Por fim, puxava uma nota de dois reais, que entregava como se estivesse dando um milhão. Que vai fazer com tanto dinheiro? Nem sei, Vô, dá pra muita coisa. Gostava disso. Ai de quem não demonstrasse a devida empolgação com o presente. Mas isso era raro. Normalmente, todo mundo fazia planos de compras de roupas, carros, foguetes e por aí vai. Tinha perdido a noção do dinheiro, não custava brincar. Mas era ele quem brincava com a gente. Nunca perdeu a noção do dinheiro. Pra Bruninho, o preferido, sempre dava cinquenta. 

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