12.8.14

vovó e seus casos

Não conto o milagre, nem o santo, só digo que é o tipo de caso que Vovó adoraria contar. Vovó, aliás, não teria pudor e contaria tudo em detalhes, dando nome e endereço completo do santo. Vovó adorava uma fofoca, um caso, uma notícia escandalosa. Pra ela, não tinha nada melhor do que telefonar à noite pra todos os conhecidos, contando as novidades do dia. Houve até quem apelidasse as ligações de “Rádio Vovó”. Não sei se Vovó aprovaria, mas a verdade é que ela dominava mesmo a arte do noticiário. Ia misturando notícias boas, ruins, banalidades, grandes acontecimentos, tudo com carga dramática máxima. O resultado era sempre excelente e não perdia a qualidade, mesmo repetido umas quarenta vezes por noite. Mas o bom mesmo era ver Vovó falando ao vivo. Quando ela falava, fosse onde fosse, todo mundo parava pra ouvir. Quando a família se reunia, Vovó ficava quieta enquanto os filhos e netos tagarelavam sem parar. No auge da balbúrdia, se empertigava toda e dizia, muito solene: Uma vez, quando eu era pequena... Uma vez, lá em Minas... Uma vez, quando fulano já estava crescidinho... Ou no meu tempo isso, no meu tempo aquilo... Ia contando o caso, dando umas risadinhas picadas, até chegar ao fim da história e todo mundo explodir na gargalhada. Ou cair no choro, dependendo do tema escolhido. Vovó era boa mesmo naquilo. Contava e recontava as mesmas histórias, mas quem se importava? “Fulano diz que as minhas histórias são muito manjadas, mas adora ouvir”, Vovó gostava de dizer. O milagre de hoje tinha tudo pra se tornar um dos grandes clássicos da Vovó. Esse ela ia repetir um monte de vezes, sempre morrendo e matando todo mundo de rir. Uma vez, há uns dez anos... Uma vez, há uns vinte anos... Dá pra ouvir direitinho Vovó falando. Pena não poder contar porque a versão dela, como sempre, é impagável.

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