11.10.14

o meu preferido

Algumas vezes, eu perguntava: vô, quem é sua neta preferida? Ele amarrava a cara e não respondia. Eu insistia. Ele fazia bico, contrariado. Afinal, enchia o peito e dizia com força: lógico que é você! Outras vezes, de mãos dadas, ele do nada falava: é minha netinha preferida. E pra minha avó: é a mais amiga da gente, Nilzinha. Gostava também de me provocar. Quando eu perguntava, ele apontava a cabeça pra outra neta qualquer, indicando a preferência. Só com muito custo conseguia fazer ele me dizer o que eu já sabia. Lógico que era eu. Mais pra frente, passou a responder a minha pergunta só beijando a minha mão. Mal falava, mal me olhava. Às vezes, só de implicância, eu sei. Assim que você saiu começou a falar, me contavam depois. Com o tempo, fui deixando de perguntar. Só dizia: vô, é sua neta preferida. Abre o olho, eu quero ver seu olho azul. Ele sempre abria. Ontem, mesmo sabendo ser inútil, mais uma vez eu pedi. Ele não abriu, nunca mais vai abrir. Nem por isso vou deixar de pedir pra sempre. Vô, abre o olho. Eu quero ver seu olho azul.

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