12.3.07

passatempo

Depois de ano e meio de preparativos, havia chegado o grande dia. A noiva entrou radiante na igreja lotada, se deliciando com cada detalhe. Enquanto ouvia as palavras do padre, pensava na inveja que as convidadas solteiras estariam sentindo. Admirava a decoração, perfeita, com cascatas e cascatas de flores caríssimas. Saboreava o impacto causado pela daminha, realmente a mais linda que já tinha visto. Lembrava o orgulho do noivo ao vê-la desfilar, parecendo uma princesa no vestido todo bordado. Mal podia esperar pela segunda etapa, a festa. Foi antecipando os cumprimentos, a valsa, o jantar, a alegria da amiga encalhada que, com sua ajuda, ficaria com o buquê. Já estava pela lua-de-mel quando o padre afinal fez a pergunta e ela respondeu que sim, que queria, sim, se casar com o noivo. Viraram-se para trocar alianças e ela achou lindo quando o padre pediu que, antes, exibissem as mãos, o símbolo da união, para os convidados. Frente a frente, esticaram os braços, mantendo as mãos suspensas, encostadas uma na outra. Subiu a música e ela ficou ali pensando que aquele era o momento mais bonito da sua vida, que não poderia ser superado nem pelo nascimento dos filhos, cujas carinhas já começava também a imaginar. O noivo, brincalhão, ameaçava abaixar o braço e ela fazia que não com a cabeça, rindo. E agradecia a sorte de ter um noivo tão bem-humorado. Depois de alguns minutos, percebeu que o braço do noivo tremia sem parar e ameaçava despencar de verdade. Daí pra frente, só pôde pensar nisso. Sabia que a música ainda estava longe do fim quando o noivo, suado e um tanto pálido, avisou que suas forças tinham se esgotado. Apavorou-se, pois a igreja inteira morreria de rir se interrompessem a cena antes da hora. O noivo argumentou que o braço estava duro, cheio de cãimbras, mas ela implorou que ele agüentasse só mais um pouco. Apaixonado, o noivo atendeu. Quando a noiva já comemorava o fim da sinfonia, o noivo não resistiu e caiu. Caiu pra trás durinho, mantendo esticados o braço e a mão, como prometido. A confusão aí se instalou. Foi um tal de socorrer o noivo, de abanar a noiva, que já ia desmaiando também, de conter o chilique do cerimonialista, que o casamento acabou ficando por aquilo mesmo. O padre sorriu, satisfeito. Antes de dormir, riscou na lateral da cama mais um tracinho, o vigésimo segundo, pelo vigésimo segundo casamento interrompido no último instante. Arruinar casamentos, seu passatempo preferido.

13 comentários:

Anônimo disse...

Amei!!!!

Anônimo disse...

Geniaal!

Anônimo disse...

eo o buque, quem pegou afinal??

Mariana disse...

o casamento acabou, não teve buquê.

Anônimo disse...

Você está arrasando nas croniquetas, cronista. Está melhor do que nunca!

Anônimo disse...

cuidado com esse padre, hein, lelê...

Anônimo disse...

padre do sao bento nao tem essas manias. deve ser de botafogo.

Anônimo disse...

garoto preconceituso...

Anônimo disse...

corrigindo, garoto mais que preconceituoso...

Anônimo disse...

padre do santo inácio e padre do são bento, anônimo, é igual a um fla-vasco. campeão e vice.

Mariana disse...

quem falou em santo inácio?
a propósito, sto inácio - fla, são bento - vasco. foi vc mesmo quem disse.

maria rezende disse...

esperta é a carol, que vai casar sem padre!

Anônimo disse...

Melhor mesmo casar sem padre. Até porque o Papa já disse que quem se divorciar e casar novamente, arderá nas chamas do inferno. E meu filho aqui morreu de rir e foi logo dizendo: "Mãe, prepare-se pra sentir um calor terrível!!!"