16.11.08

poxa, woody

De todos os rapazes do baile, o que mais encanta a moça já não é mais rapaz. É um senhor velhinho, que pelos óculos enormes, o formato do rosto, a altura e um jeito meio desengonçado de andar, ganhou logo de um dos amigos dela o apelido de Woody Allen. Woody foi o primeiro, no primeiro dia, a tirar a moça pra dançar. Zanzou de um lado pro outro, aproximou-se da mesa, abriu um sorrisinho tímido, esticou a mão em convite e puxou a moça pra pista. No fim da dança, levou-a de volta pra mesa, à moda antiga. Disse um muito obrigado tão sentido, franzindo um pouco os olhinhos por trás dos óculos, que conquistou a moça de vez. Toda semana, ela já chega no baile procurando por Woody. Observa como ele abre a pista, sempre com parceiras diferentes. Sempre uma parceira por dança, sempre levadas de volta a suas mesas, sempre os olhinhos franzidos. Como dança bem o Woody! Como é elegante, até quando alguma moça, que não entende nada da etiqueta do salão, recusa a dança. Nessas horas, a moça se aproxima como quem não quer nada, fica bem à vista e faz cara de surpresa quando ele a tira pra dançar. Outras vezes, flerta com ele. Sabe que Woody não vem assim de primeira. Passa pra lá, lança um olhar, passa pra cá, ameaça um sorriso. Até que se aproxima, fingindo insegurança, como se não soubesse que a moça vai aceitar. Dançam dois sambas por baile, Woody sempre mais assanhado no segundo do que no primeiro, colando bem o corpo no corpo da moça, batendo de leve no próprio rosto com a mão dela. A moça ri. A moça deixa. A moça gosta de pensar que é só com ela, que é graças a ela que Woody, já tão velhinho, volta a ser um rapaz. A moça também dança com rapazes de verdade, claro, e volta e meia é ela quem cola o corpo no deles, mas com nenhum a moça é tão gentil, e nenhum tem por ela a gratidão que Woody tem. São cúmplices. E quando a moça teve que passar seis meses longe do país, pensou em Woody todo sábado à noite. Quando voltou, correu pro salão. Woody não estava. Era cedo ainda, Woody podia chegar, mas o fato de não estar lá pra abrir o baile deixou a moça apavorada. Woody já não era garoto e aquilo não podia ser bom sinal. A moça ficou sentada, esperando por ele, até Woody aparecer. A alegria foi tamanha que a moça chegou a se levantar pra abraçá-lo, mas lembrou que não, que o jogo não era aquele, que o certo era esperar Woody vir. E Woody logo começou a lançar seus olhares e sorrisos. A moça correspondia sem excessos, que cavalheiro não gosta de dama atirada, mas mal podia esperar a hora da dança. Woody andava de um lado pro outro, fazia charme, torturava a moça. Afinal, parou na frente dela, arregalou os olhos, como se tivesse acabado de vê-la, e veio ao seu encontro, sorridente, já com a mão estendida. Aí, se virou e seguiu pro outro lado. O que aconteceu, a moça não sabe e nem vai saber, que se tem uma coisa que dama não faz é correr atrás de cavalheiro. O que se sabe é que a moça jurou que nunca mais dança com ele, nem se estiver abandonado no meio do salão. Pode ser que sim, pode ser que não. Pode ser que da próxima vez Woody aperte tanto os olhinhos pra convidar a moça que ela esqueça a mágoa e os dois voltem a dançar. A moça, feliz, pensando que dançar assim, Woody só dança com ela. Woody, feliz também, dando pancadinhas no próprio rosto com a mão da moça e pensando em nada, que hora de samba não é hora de se pensar. Pode ser, pode até ser. Mas o fato é que ontem, Woody, vc quebrou nosso trato.

16 comentários:

Anônimo disse...

Woody chegando tarde, não puxando ninguém para dançar. O fato é que ele está mudado...Será que aconteceu alguma coisa?!

Mariana disse...

ninguém, não, só a moça...

Anônimo disse...

noivo neurótico,noiva nervosa. ou será o contrário?

Ci� disse...

o woody acabou rodopiando pelo salão ou não?
eu quero estar presente na próxima vez que o woody chamar a moça para dançar e ela aceitar.
bjos.

Anônimo disse...

eu acho que a moça deve ter pisado no pé do velho e então ele ficou com medo, ja que após tanto tempo poderia ter piorado a qualidade da dança dela.

Anônimo disse...

Vocês todos estão "por fora": o velhinho deve ter deixado em casa uma velhinha esperando por ele "até que a morte os separe".
A moça... bem, a moça é moça, pode esperar!

Mariana disse...

abre o olho, velhinha!

Anônimo disse...

É sempre um prazer retornar às croniquetas, embora a cronista esteja judiando da gente. Vai cronista, escreve mais.

Anônimo disse...

já que entram em recesso na justiça do trabalho, a cronista sem ter o que fazer, poderia atualizar as croniquetas. a viagem foi danosa para nós fanáticos leitores.

Anônimo disse...

Desejo de um frustado Anônimo:
Que o Novo Ano traga mais ânimo à nossa querida croniquetista, e mais alento aos desesperançados comentaristas desta página!
Amém e AMÉÉÉMmmmmmmmm.

Anônimo disse...

veeeeeeenhááááá!

Mariana disse...

tô chegando, anônimo.

Anônimo disse...

É...
Perda de tempo...

Unknown disse...

Ue' bananosa, parou ? bjs

Mariana disse...

tem tempo, né?
mas é só uma pausa. volto a qualquer momento.
bj

Anônimo disse...

Saudade das croniquetas.
Lelê