1.6.08

contos canadenese - a boite

Era uma vez uma lenda de que brasileiros sao descarados, ousados e beijam na boca de quem nao conhecem. A ultima parte 'e verdade, vamos reconhecer, mas quanto a descaramento e ousadia, senhoras e senhoras, esquecam o Brasil. O que se ve nas boites canadenses encabula qualquer brasileiro. Canadenes dancam coladinhos, mas coladinhos, coladinhos mesmo, um de frente pras costas do outro. E mais. Canadenses dancam coladinhos nas costas de quem nao conhecem. Funciona assim: o menino chega perto da menina, nem diz o nome, da uma dancadinha colada de frente e ja parte pras costas, e 'e normal. E 'e a boite inteira nisso. E vc fica la olhando e pensando quem foi que inventou que brasileira 'e mulher facil. E nao to falando de baile funk, nao, que a brasileirinha nao 'e disso. 'E boite s'eria, daquelas que nao aceitam homem de tenis, bone ou regata. 'E coisa fina mesmo. E 'e tudo num clima respeitoso. O canadense vem todo educado te convidar pra dancar, so nao tira o chapeu porque a boite nao permite o uso. 'E verdade que se vc disser nao, ja era, que aqui ninguem tem tempo a perder com conversa. Nao quer dancar, ok, nao quero nem saber seu nome. Jogo rapidissimo. Agora, o interessante da coisa 'e que canadenses sao tambem muito recatados. Beijo na boca, nem pensar. O negocio deles 'e so dancar. Tambem, ne? A brasileirinha, que nao esta acostumada com essas intimidades, preferiu se esconder no cantinho da boite. Tava la sentada, observando a cena, no que veio o mexicano. Mexicanos nao sao canadenes. Sintam a diferenca. Oi, vc fala espanhol? O mexicano queria conversar, viram so? A brasileirinha nao queria. Nao, nao falo. Vc fala ingles? Bom, alguma coisa a brasileirinha tem que falar, ne? What`s your name? My name is Mariana. Ta vendo? 'E um nome espanhol! Ai, que vontade de matar esse mexicano! A brasileirinha nao respondeu. O mexicano nao falou mais nada. Tic tac, tic tac, a brasileirinha olhando firme pra frente, o mexicano sabe-se la, ate que ele manda um nice to meet you, Mariana, levanta e vai embora. Ah, sem duvida, deve ter sido muito legal conhecer a brasileirinha. Seguem-se algumas abordagens canadeneses, quer dancar, nao, nao quero, ok, tchau, ate que vem o turco, arabe, o que sera? O o-que-sera senta-se ao lado da brasileirinha. Ele vai me chamar pra dancar, ele vai me chamar pra dancar... Silencio, tensao, o tempo passa e nada acontece. Aqui cabe a pergunta, e vale pra brasileiros tambem: se todo mundo sabe o que o menino vai fazer, por que ele nao faz logo, santo Deus? Passados eternos cinco minutos, o o-que-sera lanca a pergunta, acompanhada de um murro na perna da brasileirinha. O tipo da coisa feita pra dar certo, um pow na sua perna e um convite pra dancar... A brasileirinha nao mencionou que luta taekwondo, ne? Pois luta. E nunca na vida teve que segurar tanto o impulso de devolver a gentileza. Mas so sorriu e agradeceu, pensando nao, infeliz nao quero dancar com vc de jeito nenhum. Veio mais um canadenese e a brasileirinha, com medo de levar outra pancada, e a'i sim perder a cabeca, achou melhor aceitar. Levantou e partiu pra pista com o canadense, que comecou a fazer passinhos! Sim, passinhos! Daqueles anos setenta, com rodopios, braco de um cruzado com o braco do outro, coisas que a brasileirinha nao via desde os tempos de John Travolta. A brasileirinha ja mencionou que 'e uma pessima dancarina? Pois e. Nao podia dar certo, claro, e a brasileirinha foi largada sozinha no meio da pista! Sintam a humilhacao. O canadense faz papel de palhacao e a brasileirinha 'e que 'e abandonada na pista! Depois dessa, a brasileirinha resolveu desistir. Nao da, nao, ladies and gentlemen. Boite de novo, so no Brasil.

7 comentários:

Anônimo disse...

pelo visto a brasileirinha é nacionalista,pois desfilaram tantos que parecia a ONU e nada. ela deve ser do tipo que só come fejão com arroz e assim mesmo só da minha casa. viu?

Mariana disse...

queria ver vc enfrentando o john travolta, anonimo...

Anônimo disse...

só de vc encarar uma noitada canadense já merece apoio total, e dançar com esses energúmenos que vc descreveu e dessa maneira, nem pensar. o que diriam os seus aqui?
tio joão/cal

Anônimo disse...

a cultura integra a pessoa humana na sociedade em que vive, é uma espécie de "designs for living", o que em parte explica o comportamento dos diversos "energúmenos" apresentados pela croniquetista. Esta,felizmente, pertence à cultura do insuperável feijão com arroz...também! O caseiro,viu seu anônimo das 08:52?

Anônimo disse...

Sensacional, Nana. Eu e Fábio fizemos um estudo antropológico na boate do hotel em Punta Cana tambem e concordamos em genero, numero e grau com o que vc nos descreveu. É de encabular qualquer um mesmo, inacreditável. Saudade de vcs. beijo grande

Anônimo disse...

eu teria medo do travolta, mas ainda bem que a brasileirinha faz tkd..

Leo Bartoli disse...

boite nunca, pelamordedeus. nem no brasil.