8.2.17

barão

A casa da minha avó, a Barão, foi onde nós crescemos.  Só alguns moraram lá, mas era a casa de todos nós. Era a casa do encontro, sempre aberta, sempre viva. Tudo era pretexto pra festa. Natal, aniversário, alguém chegando de viagem, alguém indo viajar. Todo jantar era um banquete. A mesa enorme, com os pratos preferidos de cada um. A multidão, a algazarra. Era também a casa das coisas pequenas. De chegar sem avisar, deitar no sofá da sala até alguém mais aparecer pra conversar. De subir a escada e encontrar a vovó assitindo à novela que ela dizia que não acompanhava. De ouvir lá de baixo a tv nas alturas, como o vovô gostava. De entrar no quartinho do escritório pra ver os álbuns antigos que ficavam guardados lá. De andar descalça no quintal de pedrinhas. De comer soldadinhos, que a vovó fazia com pão picado e feijão. Do portão de madeira, da porta de ferro, da parede de azulejos. De tanta coisa, tanta alegria. 
Depois da vovó, a casa precisou de outro dono. Entre o prédio e a creche, venceu a creche. A casa ficou de pé, melhor assim. Cheia de crianças, como sempre. Reformada, dava pra ver da rua, mas continuou lá. Agora, por coincidência, ou sorte, ou amor, virou a creche do meu sobrinho. Vejo sua foto chegando no primeiro dia de aula. No carrinho, carinha desconfiada,  pequeno demais pra saber que estava na casa da bisavó. Ao fundo, a porta de ferro, inconfundível, eterna. A porta ficou. Pedro vai passar por ela todos os dias. Meu sobrinho também vai crescer na casa da minha avó. 

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