12.11.16

insônia

Na insônia, passeio pela minha fazenda. É raro ter, insônia. Quando tenho, não sei bem o que faço dela. Já sei que não adianta a agonia, já sei que às vezes é melhor levantar e ler até o sol raiar, esperando que cedo ou tarde o cansaço me vença. Isso depois de ter tentado o relaxamento, que começa das pontas dos dedos e vai subindo pelo corpo, e geralmente na altura das coxas já me faz dormir. Assim vinha levando a insônsia, até ter o estalo de gênio. Vou passear pela minha fazenda. Vou refazer o caminho que eu fiz tantas vezes, que sempre quis gravar e só gravei quando estive lá pela última vez, sabendo que ia ser a última vez. Gravei no vídeo e, hoje sei, na alma. Comecei antes de virar na placa, passei pela figueira, dei uns passos e parei. Fui girando e gravando o que via pelos lados, pelas costas, depois andei mais, parei, girei de novo. O cenário variava pouco, mas os ângulos iam mudando, formavam quadros, formavam fotos diferentes. Fui em silêncio, ouvindo os barulhos, gravando meus passos, vendo os bichos, passando pelo curral, chegando no bambuzal, nas cocheiras, na praça, parando e girando. O cenário aí já era outro, a lagoa na frente, mais cocheiras e pastos, a subida pra casa, a placa lá embaixo, lá no fundo, e o caminho já percorrido. Passo pela outra placa, pelo riachinho seco, as flores dos dois lados, a cerca gasta, as pedras, o jardim, orgulho da vovó, o jardim. Dali, de novo a lagoa, o pasto, a entrada de casa. Não chego a entrar, durmo antes. A sala e os quartos visito só no dia seguinte, quando acordo. É bom ter insônia. Na insônia, passeio pela minha fazenda.

Nenhum comentário: