31.3.15

isabel

Isabel era a única pessoa no mundo que podia falar palavrões na frente da Vovó. Não um ou dois, mas uma enxurrada.Vovó nem se importava. Vindo dela, podia. Ela falava numa velocidade incrível, difícil de acompanhar. Chegava sem aviso, entrava pela casa feito um furacão, e lá vinha Vovó escutar a falação e morrer de rir das bobagens dela. Estou ficando cansada, Vovó cochichava lá pelas tantas e escapulia pro quarto. Isabel nem notava, continuava falando pra quem estivesse por perto. Quando não sobrava ninguém, ficava lá sozinha, esparramada no sofá, sem sapatos, roncando alto. Isabel era de casa. Era extravagante, andava cheia de badulaques, não tinha modos. Para os pequenos, era fascinante, parecia de outro mundo. Era decoradora e bastava entrar numa casa pra sair mexendo nos móveis, trocando tudo de lugar como se fosse dela. Todo mundo adorava. Tinha o hábito, mais tarde adotado por Vovó, de bater o telefone na cara da gente quando dava o assunto por encerrado. Ela era assim, sempre acelerada. 
Sem Vovó, nunca mais vi. Às vezes, ouvia notícias, nunca boas, sempre piores. O fim de vida foi solitário e lento. A notícia de hoje, então, não sei se é boa ou ruim pra ela. O fato é que ela se foi, acabou-se a história. Deixo o meu adeus à inesquecível senhora dos cabelos de três cores.


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