17.10.06
a ira da mulher casada
Eram todos amigos. Paula, Pedro, Luís, a mulher casada, o marido da mulher casada. Pedro havia decidido cortar os longos cabelos e o assunto era esse. Pedro discutia o estilo, o tamanho, comparava-se aos galãs da novela das 7, das 8, a todos os galãs. A conversa já ia longe quando Paula resolveu opinar. Por que vc não corta como o do marido da mulher casada?A mulher casada olhou para Paula. Então Paula olhava pra seu marido, então conhecia seu corte de cabelo. Sim, o corte era o mesmo há anos, mas isso não importava. Paula havia olhado pra seu marido, certamente pensava nele, sonhava com ele, ia roubá-lo na primeira oportunidade. Não disse nada. Levantou-se, esticou a mão e acertou um único tapa na cara de Paula. Um tapa definitivo, que mostrava quem era quem e quem era de quem. Eram todos amigos. Ninguém disse nada e cada um saiu pra um lado. A Paula diz que foi só um comentário. Só, na cabeça dela. A Paula não sabe que cabeça de mulher casada tem outra medida. Só, pra mulher casada, é não olhar, não falar, de preferência, nem pensar. A Paula não sabia. A Paula também não sabe ainda que, vencido o enorme hematoma que ela agora ostenta na cara, vai carregar pra sempre uma marca, uma cicatrizinha causada por um dos inúmeros anéis que cobriam a mão certeira da mulher casada (terá sido a aliança?). Marca de mulher que fez o que não devia, marca de mulher que olhou pro homem amigo, pro homem alheio. A Paula não sabia que não podia. A irada mulher casada também não sabe, mas, todos os dias, quando a Paula se olhar no espelho, vai pensar no homem dela. A mulher casada nem desconfia. Quantas não terá marcado e quantas ainda não marcará com a lembrança do seu marido?
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6 comentários:
muito bom! bjs, lu
Esplendorosa a croniqueta!
essa não deu pra identificar no universo da barão...
é possivel identificar. o problema é saber se é verdade ou nao
vamos ver se com essa a paula aprende..
Sorte que ainda não sou "mulher casada". Mas apoio a amizade da dona das croniquetas com meu futuro marido... E tem outra: ciúmes a gente guarda pra gente.
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